Rondônia: já começou errado

Rondônia: já começou errado

Porto Velho, RO - O governador de Rondônia é o coronel Marcos Rocha do PSL. Foi eleito com mais de 530 mil votos e tomou posse ontem, dia primeiro de janeiro, como manda o figurino. Mas hoje, dia 2, já é feriado em todo o Estado. E quem decidiu isto não foi ele,  o governador atual.

Foi o seu antecessor, Daniel Pereira, que sequer concorreu à reeleição. Ainda no cargo, Daniel determinou que a data de instalação do Estado de Rondônia deveria ser antecipada em dois dias. Ou seja, o seu decreto assinado no dia 28 de dezembro de 2018, quando ainda era governador de Rondônia, “invadiu” a administração do seu sucessor. Nenhum artigo ou inciso da Constituição local prevê que um governador pode “ordenar” no mandato do outro. Se houver qualquer antecipação de feriado ou outra providência futura, isso deveria ser atribuição do atual governante.

Antecipar feriado para coincidir com outros feriados é uma invenção tipicamente brasileira. Mas está errado e os primeiros a não permitir essa “brasileirice” deviam ser os governantes. O fato histórico aconteceu em data específica e isso não pode e nem deve ser mudado por decretos ou questões que fogem à lógica e à compreensão. O dia da independência do Brasil é sete de setembro, por exemplo. Nada de antecipar ou adiar essa data. Nem essa e nem nenhuma outra. É desrespeitoso com nossos ancestrais e com a própria História.

O Estado de Rondônia foi criado no dia 22 de dezembro de 1981 e instalado no dia 4 de janeiro do ano seguinte. São datas históricas da nossa realidade e acabou a conversa. Feriado no dia 2 de janeiro em Rondônia é uma aberração criada somente para atender a desconhecidos interesses alheios. Isso devia ser proibido por lei.

O novo governo foi eleito para mudar a realidade do país. E também a do nosso Estado. “São novos tempos e novos costumes”. É o que se comenta. Mas já começou aceitando as velhas regras e inclusive “cumpriu” um feriado em sua administração que fora criado por outro governante totalmente alheio ao seu mandato. Não são coisas de Rondônia apenas.

São coisas do Brasil, que insistem em permanecer incutidas na nossa cultura e na nossa História, infelizmente. Será que os eleitores mudaram tudo para tudo continuar do mesmo jeito? A nomeação de parentes direitos para a administração pública foi algo tenazmente combatido durante anos no Brasil. É nepotismo e precisa ser banido da vida pública deste país. E o que se vê lamentavelmente é um festival de nomeações “domésticas” de norte a sul do país. Parece até com os governos dos Sarney.

E não adianta dizer que é uma questão pequena, algo sem importância que não faz diferença nenhuma. Faz diferença, sim, pois as mudanças reais de uma sociedade começam sempre nas pequenas coisas. Tão brasileiro quanto saquear uma carga tombada, esse costume enraizado e desrespeitoso de “antecipar feriados para coincidir com outros feriados” tem que acabar. É uma espécie de corrupção às avessas. E os novos governantes prometerem solenemente dar um fim a essas velhas práticas.

Mas em Porto Velho, a “capital brasileira das farmácias” quase não foi sentida essa mudança de datas, pois quem tem dinheiro caiu fora para passar Réveillon nas praias do Nordeste, na paradisíaca Serra Gaúcha e até fora do país. Num lugar onde a principal emissora de TV transmite o Jornal Nacional com uma hora de atraso, que mal há em um governador “invadir” a administração do outro e antecipar um simples feriado? É Rondônia, mano!

*É Professor em Porto Velho.