Pressão para derrubar Lukashenko é ameaça de guerra contra a Rússia

Pressão para derrubar Lukashenko é ameaça de guerra contra a Rússia

Porto Velho, RO - “Não os convoquei aqui para que me defendam, mas para que defendamos nosso país, nossas famílias, nossas irmãs, esposas e filhos”, ressaltou Lukashenko em um apelo ao povo na Praça da Independência de Minsk. “Não deixarei que ninguém entregue o nosso país, não permitirei isso nem depois de morto”, discursou o presidente da República, reeleito no domingo da semana passada diante de milhares de pessoas. Segundo o Ministério do Interior, a manifestação reuniu 60.000 pessoas. 

Lukashenko a ideia de convocar novas eleições e defendeu a apuração em que a comissão eleitoral lhe deu 80% dos votos, contra 10% de sua principal adversária, Svetlana Tijanovskaia, que fugiu do país para a Lituânia. Lukashenko denunciou um complô externo para derrubá-lo, e acusou potências ocidentais de interferir na soberania do país e de concentrar unidades militares ao longo das fronteiras ocidentais da Bielorrússia, informa El País.

“Os aviões da OTAN [aliança militar liderada pelos EUA] estão a 15 minutos de voo, suas tropas e seus tanques estão às nossas portas. Lituânia, Letônia, Polônia e, lamentavelmente, nossa querida Ucrânia ordenam que repitamos as eleições, mas se lhes dermos ouvidos vamos despencar”, insistiu Lukashenko, acrescentando que uma nova votação significaria a morte “como Estado e como nação” da Bielorrússia. “Não queremos nos tornar um cordão sanitário entre Oriente e Ocidente, não queremos nos tornar o banheiro da Europa”, acrescentou em seu discurso televisionado.

No sábado, Lukashenko falou com o presidente russo, Vladimir Putin. Disse ao presidente russo que os protestos são “impulsionados e organizados do exterior” e poderiam se espalhar para o país vizinho. E deu a entender que, caso ele caia, Putin poderia ser o próximo. 

Menos de 24 horas depois dessa advertência, Lukashenko e Putin voltaram a conversar. Em um comunicado, o Kremlin ressaltou que a Rússia, levando em conta “a pressão exercida [sobre a Bielorrússia] do exterior”, está disposta a oferecer ajuda para “resolver os problemas”, inclusive sob o pacto de segurança coletiva prevista em tratados bilaterais, “caso seja necessário”. 

As manifestações contra o governo de Lukashenko e a favor de novas eleições entraram neste domingo em seu oitavo dia seguido. São as maiores já realizadas na Bielorrússia. Em Minsk, a 2,5 quilômetros da manifestação convocada pelo Governo em apoio a Lukashenko, dezenas de milhares de pessoas pediram sua renúncia, em uma “marcha da solidariedade” incomum na pequena ex-república soviética de 9,4 milhões de habitantes, na qual até alguns meses atrás poucos se atreviam a criticar o Governo em público.

O que acontecer na Bielorrússia, que tem uma extensa fronteira com a Rússia, mas também com a Letônia, Lituânia, Polônia e Ucrânia, será decisivo para toda a região. O Kremlin não parece disposto a perder sua influência sobre a Bielorrússia e está analisando as opções.

Reação mundial

Altos funcionários de muitos países falaram sobre os acontecimentos na Bielorússia e muitos deles condenaram a conduta das autoridades e questionaram os resultados eleitorais. O  ministro das Finanças da Alemanha, Olaf Scholz, disse que Lukashenko é um ditador, informa a Reuters.  

União Europeia

O alto representante da UE para as Relações Exteriores e Política de Segurança, Josep Borrell, anunciou na sexta-feira (14) que o bloco não aceita o resultado das eleições presidenciais. “A UE não aceita o resultado das eleições. Começam os trabalhos para punir os responsáveis ​​pela violência e pela fraude”, afirmou.

Os comentários de Borrell foram feitos após uma teleconferência dos 27 ministros das Relações Exteriores da UE, que terminou com um consenso de que as eleições na Bielo-Rússia foram "fraudulentas". “Os ministros reiteraram que as eleições não foram livres nem justas. A União Europeia considera que os resultados foram falsificados e, por isso, não os aceita”, constata.

Estados Unidos

O secretário de Estado dos EUA, Mike Pompeo, admitiu na quarta-feira a possibilidade de impor sanções contra a Bieloeeússia, incluindo a suspensão do fornecimento de petróleo norte-americano ao país europeu.

“Estávamos extremamente preocupados com as eleições e profundamente desapontados por não terem sido mais livres e justas. [...] Então vimos a violência e as consequências, os manifestantes pacíficos foram tratados de forma inconsistente com a forma como deveriam ser tratados "ele declarou.

Países vizinhos

Os primeiros-ministros da Lituânia e da Letônia falaram na mesma linha, exigindo a realização de novas eleições presidenciais. Por seu lado, o Ministério das Relações Exteriores da Ucrânia declarou que os resultados das eleições "carecem de credibilidade entre a sociedade bielorrussa".

Quanto à Rússia, Lukashenko declarou neste sábado que precisava entrar em contato com seu homólogo russo, Vladimir Putin, por acreditar que se trata de uma ameaça "não apenas para a Bielo-Rússia", referindo-se aos protestos massivos que estão ocorrendo em todo seu país. O apelo foi feito no mesmo dia e, durante a conversa, os dirigentes dos dois estados manifestaram a esperança de que todos os problemas surgidos na Bielorrússia "sejam resolvidos em breve", segundo o Kremlin. “O principal é que esses problemas não sejam aproveitados pelas forças destrutivas que aspiram a prejudicar a cooperação mutuamente benéfica dos dois países”, diz o comunicado informa a RT.